terça-feira, 29 de setembro de 2009

Faithfully yours

Há muitos anos que tenho uma relação complicada na vida. Desde os meus 13 anos, que me lembre. Eu quero acabar com ela, mas a outra parte não aceita, persegue-me, atormenta-me. É verdade, tenho uma relação muito tormentosa com o meu buço. Não, chamar-lhe buço é uma delicadeza que ele não merece. Corrijamos: tenho uma relação muito tormentosa com o meu bigode.

O meu bigode ama-me há anos, embora eu tenha tentado fazer-lhe ver, durante este tempo todo, que ele não é bem-vindo, que é detestado, que o abomino e acho hediondo. Já foi cortado, aclarado, arrancado. É fiel até à inconsciência. Volta sempre. Nunca me trocou por outra, nunca passou meses sem dar sinal de vida, nunca andou a passear por lábios alheios.  Este é um clássico caso de “quanto mais me bates, mais gosto de ti”.

Houve uma altura da minha vida em que fazia de conta que ele não existia, mas não resultou. As outras pessoas sabiam que ele estava lá e diziam-me: "Mas porque não te desfazes dele? Ele não é bigode para ti." A primeira vez foi quando tinha 13 anos. Um amigo da minha rua disse-me, candidamente: “Tu és gira, não percebo porque é que não fazes o bigode.”

Além do meu bigode ser um despudorado e alardear a nossa relação sem pejo, ainda tive que ouvir isto, de uma alma bem intencionada, é certo, mas UM RAPAZ! UM RAPAZ REPAROU NO MEU BIGODE! Horror, medo, frustração, e vergonha, muita vergonha.

Começou então a fase de tentar acabar com a relação. Passei a tratá-lo mal, fisicamente falando. Psicologicamente, era ele que me tratava a mim. Foram os anos dos produtos químicos, das pinças e finalmente da cera. Ele sempre detestou ser tratado assim, e mostrava-o bem, deixando-me com aquela zona supra-labial em fogo durante mais de um dia. Mas eu era mais persistente do que ele.

Lá se foi habituando aos maus tratos, começou a não reagir tão mal, eles passaram a ser banais. Como tantas relações disfuncionais... Nessa altura eu tentava esconder, envergonhadamente, que pudesse haver ainda uma relação entre nós dois. Um pequeno vislumbre da sua presença, e era logo arrancado pela raiz, sem dó nem piedade. Fazia de conta que sempre tinha sido glabra sobre os lábios. Vivia uma constante mentira feliz.

Chegada aos 30, mais confiante, passei a assumir esta relação de forma mais descontraída. “Sim, tenho, é verdade. Estou a fazer tudo para acabar com ele, mas ele não me deixa”. Continuo a dar-lhe cabo da saúde, mas já não morro de vergonha quando ele reaparece, inesperadamente. Às vezes até o deixo andar por aqui uns dias, antes de o mandar dar uma volta outra vez.

Agora aproximam-se os quarenta, e acho que está mais do que na altura de acabar por completo com esta minha tão velha relação conturbada. Não digam a ninguém, mas acho que vou passar à exterminação completa. Os avanços da ciência fazem maravilhas, está na altura de ir consultar aquelas sábias senhoras com engenhocas do século XXIII e pedir-lhes para acabarem com a miséria de vida do meu bigode. Até é um acto de piedade, não?

Este é o requiem do meu bigode. Obrigada por tantos momentos embaraçosos de fortalecimento de carácter, obrigada pelas vezes em que me tornaste mais bela para um qualquer habitante de alguma aldeia perdida no meio de Marrocos, obrigada por me teres aquecido o lábio superior por muitos e muitos Invernos. Mas aqui me despeço, em breve nos separaremos. É desta que dou cabo de ti, meu querido.

2 comentários:

  1. LOL LOL LOL... ah, manda-lhe os meus cumprimentos...

    ResponderEliminar
  2. ahahahahahah!!!!!

    ai bigoda má linda! adeus oh vai-te embora!!! que saudades vais deixar.. para os que gostavam de gozar contigo!!!

    só tu para dares destaque à bela da bigodaça!!!

    mesmo que não vá na 2ª feira.. a prendinha ja a tenho!!! LOLOLOL

    Beijonga
    Pat

    ResponderEliminar