sexta-feira, 27 de maio de 2011

Friends will be friends

Há amigos e amigos.
Há os amigos de infância, os amigos da escola, os amigos da família, os amigos de ocasião, os amigos coloridos. E há aqueles amigos que fizeram parte da nossa vida numa determinada altura e que, por uma qualquer razão já não fazem parte do quotidiano.
Ontem relembrei uma amiga que já não vejo há muito tempo, mas por quem tenho grande admiração. Uma mulher corajosa, frontal, determinada, sincera, gentil e verdadeira. Trabalhou comigo mas lançou-se numa aventura a solo, para realizar a sua paixão e o sonho da vida dela. Foi preciso tomates a sério, mas ela não vacilou. Ontem senti saudades dos momentos em que podíamos discutir problemas comuns, opiniões diferentes, em que nos riamos de nós próprias.
Assim, este post é para todos os meus amigos e amigas que já não vejo com a regularidade que gostava, mas que estão cá sempre, na mente e no coração. Como dizia um certo escritor, não há longe nem distância, e o meu coração é a vossa morada.
Charlotte aux Fraises, Anabelinha da Beira, Pepe do coração, Pat casamenteira, Bruno que já cá não estás, tenho saudades de todos!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A piece of my heart

Há onze anos atrás, numa tarde chuvosa de Novembro, ao sair da Vasco da Gama fui dar com um cão que corria na berma da estrada. Estava encharcado, corria perdido e em pânico. Pensei que mais carro, menos carro, ele ia ficar debaixo de um, pelo que parei o meu e corri atrás dele. De farda, com saltos altos e à chuva, lá corri eu atrás dele, na esperança que se cansasse.
Encolheu-se quando o apanhei, mas assim que o meti no carro, deitou-se no chão e não mais se mexeu. Levei-o para casa, dei-lhe banho, e durante estes onze anos tem sido o meu companheiro fiel, a minha sombra, que só pede para se deitar aos meus pés e estar perto de mim.
O meu amigo foi baptizado com um nome de vila alentejana, porque era a pacatez em forma de cão. Nunca se lhe ouvia um latido, nunca saltou para ter uma guloseima, ficava a olhar para mim à espera, sabendo que ia parar à boca dele mais cedo ou mais tarde.
No ano passado ele adoeceu e teve que ser operado. A operação, que correu bem, teve um pós-operatório complicado e ele esteve quase a morrer. O meu coração esteve apertado durante várias semanas. Ele não andava, tinha que o levar à rua ao colo. Fazia xixi pelas pernas abaixo, sem controlar nem se dar conta. Era uma tristeza olhar para ele, mas nunca perdi a esperança na sua recuperação total.
Hoje está cego e surdo, vive mais por pressentimento do que por sensação, mas saltita sempre que vamos à rua. Parece uma ovelhinha saltitante, passeando pela minha rua.
Dizem que as pessoas que estiveram perto da morte dão um valor novo à vida e sentem-se revigoradas. Também nisto o meu cão dá uma lição de humanidade, porque eu sei que apesar da velhice, da cegueira e da surdez, ele está feliz por estar cá e feliz por estar comigo. E eu tenho muita sorte em ter um amigo assim.