Estes últimos dias tenho cogitado bastante sobre uma questão: acho que a história da criação do Homem e da Mulher está um bocado mal contada.
A Bíblia conta-nos que Deus, um brincalhão de primeira com uma imaginação do camandro, resolveu criar o mundo. Fez os animais mais incríveis, desde o ornitorrinco, uma anedota da natureza, até aqueles peixes que vivem nas profundezas do mar, e coitadinhos, nunca vêem a luz do sol. Outra piada, um bocado de mau gosto para mim.
Imaginou, criou, fez a Terra, com tudo o que conhecemos, (e com tudo o que já não conhecemos porque conseguimos destruir) em 5 dias. Ao sexto dia pensou com os seus botões (se é que Ele está vestido), preciso de uma Obra Prima. Então criou o Homem. Um bocado de lama, umas amassadelas com cuspo divino e o sopro da vida fizeram o trabalho. Aparentemente simples, quando comparado com outros seres da Criação, mas infinitamente complicado, como Deus se aperceberia mais tarde. Enfim, o Homem estava criado, e Deus ficou feliz. Descansou ao sétimo dia, foi para o time share que tinha comprado num cantinho a sul do jardim do Éden.
O Homem lá começou a sua vidinha de homem. Andava por ali, olhava para as árvores, as flores, viu as ovelhas e achou-lhes piada, descobriu que podia comer umas frutas deliciosas que nasciam nas árvores e umas coisas esquisitas que saíam do chão. As primeiras semanas foram divertidas, como era suposto ser para a criação máxima do Ser Divino.
Mas já nessa altura andava por ali um bicho invisível, que Deus nem se lembrava que tinha criado, um viruzito chamado influenza. De temperamento imprevisível, gostando tanto de porcos como de aves, um dia cruzou-se com o nosso homem, que ainda por cima apreciava andar nu em pêlo, e achou que tinha que experimentar aquilo. Afinal, era a primeira vez que via um!
O infeliz foi contaminado, e quase imediatamente entrou num estado letárgico, afligido por dores e febre que lhe tiravam toda a vontade de se mexer. Enrolou-se debaixo de uma figueira, e decidiu não mais dali sair enquanto não voltasse a sentir-se vigoroso. Entrou numa ladainha queixosa, com gemidos e imprecações, de tal forma que incomodaram Deus, que estava tão feliz no seu condomínio fechado.
Sentido-se responsável por todos os seres da sua criação, lá foi investigar o que se passava e descobriu a sua criação perfeita reduzida a um insignificante ser lamuriante.
Reflectindo sobre a situação, decidiu que se tinha esquecido de fazer uma parceira para o homem, para lhe fazer companhia, para ficar com ele, na saúde e na doença. Enquanto o fraco homem dormitava num sono febril, Deus tirou-lhe uma costela e criou a Mulher.
Ora a mulher, apesar de muito similar ao homem fisicamente, mais apêndice, menos apêndice, era muito diferente dele em quase todos os outros aspectos. Incrivelmente, sentiu logo um carinho enorme pela criação máxima de Deus, naquilo que mais tarde viria a ser chamado "Síndrome de Florence Nightingale". Resolveu tratar dele, procurou plantas que o pudessem ajudar, trouxe-lhe água, enfim, tentou diminuir o seu desconforto ao máximo.
Hoje em dia toda a gente sabe que as mulheres não são de ferro, mas a primeira mulher não tinha noção disso, e também foi apanhada pelo vírus influenza. Também ela ficou fraca, com dores, febre, também ela só tinha vontade de se deitar debaixo de uma figueira e ficar assim até o vírus se fartar dela.
Mas o homem precisava dela, as ovelhas tinham que ser levadas a pastar, tinha que ir buscar água para o homem beber e para o refrescar. E graças aos céus, ainda não tinham tido tempo de procriar, e não havia homenzinhos e mulherzinhas de quem tomar conta.
O homem queixava-se: "Ai sinto dores, nem sabes as dores que sinto. Já sentiste estas dores? Ai, estou a transpirar tanto, nem imaginas o que estou a transpirar. Já transpiraste assim? Olha, não gosto dessas plantas, não me podes arranjar outras? Não tens peninha de mim? Estou tão doente!" A mulher não tinha assim muita pena, mas lá continuava a tratar do seu enfermo. Assim, não teve a mulher outro remédio do que continuar o seu dia a dia, procurando as plantas e indo buscar a água, independentemente de quão mal se sentia.
Eventualmente o homem lá despertou do seu torpor, lá se sentiu melhor, lá se levantou de debaixo da figueira, espreguiçou-se e disse: "Sinto-me um homem novo! Ainda bem que Deus tomou conta de mim. Sou mesmo a Criação preferida do Senhor!"
E lá voltou à sua vidinha. A mulher também voltou à sua, e durante milhares e milhares de anos esta seria a sua sina: tratar dos homens, das crianças, do quotidiano, sem ser devidamente reconhecida.
Esta meus amigos, é a verdadeira história da criação do Homem e da Mulher, e quem não tiver já tido que aturar um marido doente em casa, é que não sabe! Tenho dito!
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