Cada vez que falo sobre a hipótese de abandonar este pedaço de terra perdido no canto da Europa e ir à procura de ares mais sadios para a minha mente e futuro, há o habitual reclamar do como temos "uma qualidade de vida que os outros países da Europa invejam. Como temos um estilo de vida sem stress (desculpa, onde é que moras?). E a nossa luz, e o nosso sol e a nossa comida." Calo-me, para não ser mal educada e dizer o que é que podem fazer à luz e ao sol e à comida, mas penso cá para mim: nesse caso, o nosso querido país é um mega resort cheio de pobretões.
Basicamente, andamos todos aqui a passar férias, não é verdade? Qualquer chavão publicitário para um destino de férias parece aplicar-se a este canto do mundo. Não há dúvida que em certos sítios a capacidade de trabalho está mais condizente com a preguiça de umas férias à beira-mar plantado, do que com o bulício de um aeroporto em vésperas de Natal.
Mas eu cá não preciso só da nossa luz, preciso de ver justiça social à minha volta, não preciso só do nosso sol, preciso de ter um futuro para os meus filhos, e não preciso só de comida para o estômago, preciso de alimento para espírito. E não encontro nada disso cá.
Também gostam de me contrariar dizendo que afinal somos um país porreiro, pá! Temos tanta coisa boa, porque é que o português tem a mania de só ver o mau, denegrir o país que o viu nascer, em vez de o defender com unhas e dentes, qual leoa a defender a sua cria?
Bem, na minha modesta opinião, temos realmente algumas coisas melhores do que noutros países, mas infelizmente a rapidez com que passo na Via Verde ou os pagamentos que posso fazer no Multibanco não compensam a vergonha das "excepções" diárias aos salários dos que mais ganham, da acumulação de pensões, do aumento dos medicamentos, dos empregos milionários por cunha, da degradação do ensino, dos mediáticos casos arquivados, da impunidade generalizada, do fartar vilanagem de muita gente influente, enquanto o necessitado fica obrigado a pagar cada vez mais para este Estado consumista e ladrão.
Uma vez não me renovaram contrato, num emprego que tive, com um péssimo ambiente de trabalho graças ao terror nazi que o chefe gostava de fomentar. Rapidamente arranjei outro, e quando fui visitar as minhas antigas colegas, o meu ex-chefe, que (aparentemente) tinha mudado de opinião em relação à minha qualidade para o posto, perguntou-me se eu queria voltar. Tive a satisfação de lhe dizer que não, pois prezava bastante a minha saúde mental. Soube-me bem... Apetecia-me fazer o mesmo agora: bye, bye minha terra, prezo demais a minha sanidade mental.
Será que estou condenada a viver neste mega resort, com tanto sol e tanta luz e tanta comida, mas com tão pouco juízo?
Vá, numa nota positiva: força Portugal! Estás à beira do abismo, mais um passo e fazes kite surf, que está na moda!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
It's the crisis stupid!
A semana que passou teve um evento importante para esta vossa amiga: o meu aniversário.
Fui convidada a almoçar num restaurante moderno e chique, pelo meu querido mano mais novo. Chegámos bastante cedo, fomos aliás os primeiros clientes da hora de almoço nesse dia. Pôr a conversa em dia e desfrutar da companhia do meu mano é sempre agradável, ainda para mais acompanhado de boa comida.
Já estávamos quase a terminar, quando começou a hora da ponta do almoço. Eis que vejo chegar a clientela do restaurante. E eis que pude contemplar a dimensão da crise em Portugal.
Não havia um cliente que entrasse naquele restaurante que não viesse num modesto BMW ou Mercedes topo de gama. Não havia um senhor que não viesse com um fato de bom corte e uma gravata discreta. Não havia um homem de negócios que não se sentasse com o seu telemóvel topo de gama, preferencialmente Iphone 4, na mesa ao seu lado. Tudo nas pessoas que entravam, homens e mulheres, transpirava sucesso, riqueza, qualidade de vida, satisfação, prosperidade.
Olhei à minha volta no restaurante, e só pensava na miséria que há por aí espalhada, nas pessoas a ficarem sem dinheiro para pagar casas, comida, senhas para o almoço dos filhos na escola, remédios. Só pensava nos mais de 2 milhões de verdadeiros pobres em Portugal. E eu ali, aparentemente também parte da elite endinheirada deste país, e interiormente a sentir-me revoltada por haver tantas desigualdades, tantos com tão pouco.
Da próxima vez que tentarem culpar a crise de alguma coisa, vou contestar: Crise? Qual crise estúpido?
Fui convidada a almoçar num restaurante moderno e chique, pelo meu querido mano mais novo. Chegámos bastante cedo, fomos aliás os primeiros clientes da hora de almoço nesse dia. Pôr a conversa em dia e desfrutar da companhia do meu mano é sempre agradável, ainda para mais acompanhado de boa comida.
Já estávamos quase a terminar, quando começou a hora da ponta do almoço. Eis que vejo chegar a clientela do restaurante. E eis que pude contemplar a dimensão da crise em Portugal.
Não havia um cliente que entrasse naquele restaurante que não viesse num modesto BMW ou Mercedes topo de gama. Não havia um senhor que não viesse com um fato de bom corte e uma gravata discreta. Não havia um homem de negócios que não se sentasse com o seu telemóvel topo de gama, preferencialmente Iphone 4, na mesa ao seu lado. Tudo nas pessoas que entravam, homens e mulheres, transpirava sucesso, riqueza, qualidade de vida, satisfação, prosperidade.
Olhei à minha volta no restaurante, e só pensava na miséria que há por aí espalhada, nas pessoas a ficarem sem dinheiro para pagar casas, comida, senhas para o almoço dos filhos na escola, remédios. Só pensava nos mais de 2 milhões de verdadeiros pobres em Portugal. E eu ali, aparentemente também parte da elite endinheirada deste país, e interiormente a sentir-me revoltada por haver tantas desigualdades, tantos com tão pouco.
Da próxima vez que tentarem culpar a crise de alguma coisa, vou contestar: Crise? Qual crise estúpido?
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
I'm sooooooo MAD!
Hoje de manhã tudo fazia prever que o dia iria decorrer normalmente, como qualquer outra quinta-feira. Saí de casa, nem sequer apanhei muito trânsito e quinze minutos mais tarde estava a chegar à escola do meu filho mais velho. Para descobrir, com surpresa, que a mesma estava fechada. Greve? Não! Assalto! Vandalismo e destruição!
Alguém me explica, porque raio se assalta uma escola primária, levam-se os computadores, partem-se mesas e cadeiras? Porquê?
Eu sei que este é um país de pessoas sem princípios, sem escrúpulos, sem educação. Eu sei que há a crise, e o desemprego e a miséria. Mas assaltar e vandalizar uma escola primária pública? Roubar crianças que precisam do que lá está dentro para aprender, crescer, terem futuro?
Porque aquela não é uma escola de meninos e papás ricos. É uma escola normal, com crianças de todo o tipo de família, desde a mamã que faz limpezas até ao papá que é advogado. É uma escola inclusiva, em que raças, classes, se interligam, aprendem a viver umas com as outras. É uma escola que dá oportunidades a quem delas precisa. Uma escola com professores esforçados, amigos, que puxam pelos alunos. É uma escola com todas as necessidades e problemas das escolas públicas em Portugal. Uma escola que hoje foi violada, aviltada, despida do seu sentido.
Sinto-me profundamente enraivecida pelo que aconteceu. Cada vez que me roubam um bocado da imagem de decência e pureza que tenho de certas coisas, fico mais desiludida, mais triste. Menos boa pessoa. É cada vez mais fácil acreditar no mal e não no bem. É cada vez mais fácil encontrar boas razões para me tornar cínica e descontente.
E não me venham com histórias de "ah, é o pão nosso de cada dia", "está sempre a acontecer", "tens sorte por não ter acontecido antes". Não quero saber! Uma escola para mim é um reduto sagrado, protector de crianças, alimento para o futuro. Não quero saber da realidade dos outros sítios. A minha realidade viu-se alterada hoje, para pior. E isso é que me importa. Hoje estou mesmo GRRRRRR!
Subscrever:
Mensagens (Atom)